Nampula é também conhecida como a cidade universitária, pelo número de instituições de ensino superior e consequente número de estudantes. Como resultado, tem vindo a graduar uma quantidade elevada de estudantes, que concluem com sucesso os níveis de Licenciatura, Mestrado e até Doutoramento.
Só este ano, a previsão é que pouco menos de 10 mil estudantes sejam graduados e recebam os seus diplomas, nos mais variados cursos oferecidos pelas faculdades, entre públicas e privadas, mas a polémica prevalecente tem a ver, por um lado, com a fraca qualidade dos quadros e, por outro, com a pouca disponibilidade de emprego para estes “doutores”.
O Wamphula fax traz nesta reportagem, na sua primeira parte, algumas opiniões e dados estatísticos sobre este dilema, que, afinal, não é só da cidade e província de Nampula, mas de todo o país.
De janeiro a Junho passado, na província de Nampula, os dados indicam que as universidades Lúrio e academia militar (do ramo público), Católica, que inclui ramo de ensino a distância e Mussa Bin Bique graduaram perto de três mil estudantes, esperando-se que ainda este ano outras instituições certifiquem mais de sete mil.
“As universidades estão a fazer a sua parte. Estão a formar o cidadão, mas o debate surge, por um lado, quanto a qualidade desta formação e, por outro, quanto a oferta de emprego”, disse um docente universitário, que não quis ser identificado.
Só para elucidar, no mês de Março, a Universidade Mussa Bin Bique, graduou mil licenciados em diversas áreas, dos quais 479 são do sexo feminino, nos cursos de ciências agrárias, biologia, português, contabilidade e auditoria, inglês, gestão, administração pública, história, geografia, direito, psicologia educacional e psicologia clínica.
Em Abril passado, um total de 441 estudantes foram graduados pela Universidade Católica de Moçambique (UCM), dentre eles 370 com o grau de licenciatura, 47 mestrados e 24 doutores, das Faculdades de Direito e Educação e Comunicação, bem como do Instituto de Educação à Distancia (IED).
A UCM oferece uma diversificada gama de cursos, entre eles a licenciatura em Contabilidade e Auditoria, Desenvolvimento Comunitário, Economia e Gestão, Gestão de Desenvolvimento, Gestão de Marketing, Gestão de Recursos Humanos e Relações laborais, Gestão e administração educacional e psicopedagogia, Relações Públicas e Comunicação Estratégica e para além de serviço social, direito, administração pública, entre outros.
Os mestrados e doutoramentos nas duas faculdades da UCM também são vários e muito concorridos, com uma média anual acima dos 300 estudantes.
A Academia Militar também leciona cursos para população em geral e no mês de Maio graduou centenas de licenciados e mestrados.
No mês de Junho passado, foi a vez da Universidade Lúrio (UniLúrio), através da Faculdade de Ciências de Saúde (FCS), Arquitectura e Planeamento Físico, UniLúrio Business School, graduou 566 estudantes em diversas especialidades, entre eles médicos e arquitectos.
Um aspecto relevante nas estatísticas dos graduados tem a ver com o equilíbrio do género, pois dos mais de dois mil estudantes graduados este ano em, Nampula, perto de cinquenta por cento são mulheres.
O director de assuntos sociais, ciência e tecnologia, em Nampula, Nguma Geraldo, manifesta a satisfação do governo ante este indicador de equidade de género, um esforço das faculdades e dos pais e encarregados de educação, que já percebem a necessidade de pôr a mulher a estudar até ao ensino superior.
De acordo com Nguma Geraldo, o desejo do governo é que possa acabar-se com a história de que as mulheres não são inclusas, não têm oportunidade, pois a província testemunha e evidência que é possível colocar as mesmas nas universidades e fazer o nível superior em pé de igualdade com os homens.
Aliás, a fonte revela igualmente que parte considerável do grupo de estudantes, que têm sido graduados pelas universidades de Nampula, vem de outras regiões do país.
Se por um lado, alguns dos estudantes graduados já tem um emprego no Aparelho do Estado ou em instituições públicas e privadas e vão a universidade para obter o grau académico, por outro, é que a maioria são jovens que terminam o ensino secundário e vão a universidade fazer a licenciatura para procurar um emprego formal.
A realidade mostra que muitos deles, pela falta de experiência e pela deficiente formação, que se traduz na fraca qualidade, não conseguem empregar-se ficando com os diplomas a engrossar o ramo dos desempregados.
Orlando Francisco, é um cidadão que se graduou no ano de 2018, quando obteve o grau de licenciatura, na actual Universidade Rovuma (UNIROVUMA), antes UP, no curso de Filosofia, Desenvolvimento Institucional, Habilitações e Comunicação Estratégica e revelou ao nosso jornal que até hoje não encontrou emprego, na área da sua formação.
“Não sou o único nesta situação. Há muitos, cujos cursos não oferecem oportunidade de emprego. Vemos engenheiros, filósofos, psicólogos a trabalharem como caixa do banco ou mesmo sentando em casa”, disse Orlando.
A nossa fonte levanta ainda outro problema, que enferma o mercado de emprego, tanto no sector público como privado, relacionado com o trafego de influência, acusando, respectivamente, os dirigentes e os proprietários ou gestores de empresas de facilitar familiares e conhecidos sem olhar para as capacidades e competências dos candidatos.
A província de Nampula conta, neste momento, com um total de 12 instituições do ensino superior entre elas universidades, academias e institutos superiores politécnicos, com mais de 20 mil estudantes.
Em próximas edições voltaremos a este assunto apresentando as opiniões de diversos extratos sociais. Aliás, esta quarta-feira esta programado na cidade de Nampula um debate sobre assedio moral e sexual nas universidades da urbe, outro assunto que enferma a qualidade do ensino aprendizagem.