Munícipes residentes no centro urbano e em diversos bairros da cidade de Nampula dizem que as facturas de consumo de água potável, emitidas nos últimos meses pela sociedade Águas da Região do Norte (AdRN), estão a asfixiar os seus bolsos, tendo em conta que aparecem com taxas bastantes elevadas.
As nossas fontes argumentam que, a subida dos valores facturados, começou a registar-se depois que surgiu a sociedade Águas da Região do Norte (AdRN), em substituição da empresa Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água (FIPAG), à luz de um decreto de Dezembro do ano de 2022.
Estranhamente, dizem os consumidores, que a tarifa de água nesta urbe conheceu um aumento, mesmo sem que os volumes de provimento tenham crescido, pois, se no centro da cidade mante-se a distribuição em menos de seis horas por dia, nos bairros arredores o precioso líquido chega a não jorrar nas torneiras por um período de uma semana ou mais.
Fora as habituais faltas de leitura dos contadores e os cálculos a base de estimativas, os clientes da única distribuidora de água a cidade dizem que agora estão a ser aplicadas taxas em escalões, que, entretanto, não espelham os consumos reais.
O cenário de aplicação de taxas elevadas, segundo apurou o nosso jornal, está a sufocar e afectar negativamente os cidadãos consumidores do precioso líquido, sobretudo os de baixa renda, em todos os bairros da cidade de Nampula, onde o precioso líquido é canalizado pela empresa.
A nossa reportagem efectuou uma ronda pelos bairros de Muahivire, Mutauanha, Belenenses e Napipine, nesta urbe capital e deparou-se com cenário generalizado de lamentações, em que os munícipes com água canalizada nos respectivos quintais chegam a pagar, em média, mais de mil meticais por mês, contra os anteriores cerca de 150 a 200 meticais que eram pagos na factura do FIPAG.
João Mariano, morador no bairro de Muahivire, casado e pai de dois filhos, é desempregado, dependente de negócio de refeições, para o sustento da sua família e contou a nossa reportagem estar desconfortável com os valores das facturas da empresa AdRN, por considerar ser muito elevadas.
“Antes, o preço da factura de consumo de água mensal na minha casa, oscilava entre 130 meticais no mínimo e no máximo 150 meticais. Fico surpreso com os actuais mais de 550 meticais” lamentou, sustentando desconhecer se a tarifa sofreu agravamento ou não.
Mariamo João, outra munícipe residente no bairro de Muahivire, com a água canalizada na sua residência há mais de uma década, refere que a actual empresa entrou para prejudicar o pobre cidadão, que ao invés de prover água diariamente nas torneiras e durante muito tempo para garantir a higiene pessoal e colectiva da respectiva família, apenas se limita em aplicar preços elevados na factura.
“Sou viúva e dependo de uma pensão muito baixa. Então, os valores das factura que recebo, nos últimos meses, estão a trazer muitas implicações nos meus cálculos mensais e já sou devedora de mais de quatro mil meticais. Para realizar despesas de rancho, pagamento de energia, água entre outras já é insuportável”, detalhou referindo que prevê para breve um corte no fornecimento, porque não vai suportar o pagamento das facturas.
Lina Monteiro, residente no bairro de Mutauanha, inquilina de uma residência com água canalizada sob sua gestão, em conversa com a nossa reportagem, começou por chamar da empresa de oportunista, pelos preços exorbitantes aplicados nas facturas.
“A empresa, já veio várias vezes ao público a dizer que não tem capacidade para abastecer água a todos bairros da cidade, por causa da demanda e o número de habitantes, agora porque decidiu aumentar o preço das facturas, isso revela que pretende tirar proveito dos seus clientes”, disse Monteiro.
A sociedade Águas da Região do Norte (AdRN), entidade acusada de ter agravado os preços de consumo deste liquido indispensável na vida das populações, na cidade de Nampula não se predispôs a reagir, não obstante as várias insistências da nossa reportagem.
No entanto, fonte da empresa, não autorizada a dar entrevista, apenas partilhou com a nossa reportagem a resolução 1/2022 de 27 de Dezembro, da Autoridade Reguladora de Águas, que ajustou as tarifas de fornecimento de água com efeitos a partir de 01 de dezembro do ano passado.
Nesta resolução as tarifas apresentam que a agua é mais cara na cidade de Nampula em relação a todas outras cidades e vilas municipalizadas, não decifrando os critérios para tal desigualdade, embora se refira a necessidade de ajustar, “ponderados os principais factores determinantes na produção da água e factores macroeconómicos”.
Por exemplo, a tarifa de referência mais baixa, por metro cubico, é a da cidade de Angoche com 38.59 meticais e a mais cara, como dissemos, é da cidade de Nampula, com 53.22 meticais, acima de Maputo e Beira, fixadas, respectivamente, em 51.19 e 47.31 meticais.