Moçambique tem infraestruturas que só funcionam no dia da inauguração

Moçambique tem infraestruturas que só funcionam no dia da inauguração

O consultor em Gestão de Desenvolvimento, António Muagerene, defende que a criação de um Banco de Desenvolvimento em Moçambique pode ser decisiva para colmatar o défice de financiamento de infraestruturas e estimular a industrialização.

Contudo, sublinha que o sucesso da instituição não dependerá apenas da sua fundação, mas sobretudo da forma como será gerida e sustentada.

Na sua óptica, o banco deverá complementar o sistema financeiro existente, apoiando sectores e projectos que não encontram cobertura nos bancos comerciais. “Não se trata apenas de saber se queremos ou não um banco, mas de como será criado e gerido”, destacou.

Apesar do seu potencial, Muagerene alertou para riscos já conhecidos no país. “Temos infraestruturas que só funcionam no dia da inauguração. No dia seguinte, a parede já está partida, a água não corre e os problemas começam”, criticou, sublinhando que a sustentabilidade exigirá boa governação, independência operacional e gestão técnica rigorosa.

Recordou ainda a experiência do Banco Popular de Desenvolvimento, criado em 1977 para financiar acções de desenvolvimento no contexto de uma economia planificada. A instituição encerrou dez anos depois, vítima de falhas estruturais, guerra, desastres naturais e da pressão de entidades como o FMI e o Banco Mundial.

Para o consultor, a lição é clara: só uma governação forte e livre de pressões políticas poderá garantir que o novo banco cumpra o seu papel de motor do desenvolvimento.

António Mutoua, director da Solidariedade de Moçambique, partilha da mesma visão e considerou fundamental que o banco não seja elitista nem politizado. Criticou estruturas pesadas e conselhos de administração inflaccionados por cargos não executivos, que oneram as instituições sem benefícios visíveis. “Este banco deve ser mais social e olhar com seriedade para investimentos que impactem as comunidades”, reforçou.

Em representação do Conselho Empresarial Provincial, Kendo Mangule defendeu que o conselho de administração integre não apenas funcionários do Estado, mas também empresários, para garantir maior transparência e diversidade.

Para além disso, o sector privado considera indispensável a realização de auditorias externas anuais e a definição de critérios técnicos claros na concessão de crédito. As taxas de juro, sublinhou Mangule, devem ser ajustadas à rentabilidade dos sectores.

“Se a agricultura rende 9% ou 12%, não faz sentido aplicar juros superiores. Isso só criaria endividamento e recessão”, alertou.

Os empresários defendem ainda que os financiamentos devem traduzir-se em ganhos reais de produtividade e competitividade, tendo em conta a adesão de Moçambique ao comércio livre da região.

Por fim, recomendam que a sustentabilidade social e ambiental seja integrada na estratégia, incentivando parcerias empresariais e a criação de clusters.