Por: Dr. Namiruku Aassomi
A máfia institucional
A UniLúrio perdeu nos últimos anos os princípios mais elementares de ética. É óbvio que a responsabilidade de manutenção de tais padrões éticos recai sobre a alta administração, neste caso, os órgãos de gestão universitária, especialmente os presididos pelo reitor, e depois replicados pelos restantes membros da comunidade académica, com destaque para os que estão em eminência, como é o caso dos gestores intermediários – directores, docentes, CTAs, e outros agentes. Não se pode esperar uma sociedade sã quando os centros de produção de conhecimento e das mais elevadas reflexões filosóficas por excelência se imiscuem em comportamentos desviantes e corrosivos para tal sociedade a que se propõem construir. Um dos manifestos amplamente difundidos no último quinquénio foi a reestruturação e a construção de um projecto universitário desenvolvimentista, que no entender de muitos foi uma autêntica propaganda, se calhar o reitor tivesse boas intenções, não fosse o engodo das tentações peculiares das nuances do poder.
Entrou com um discurso de promoção da transparência nos processos de gestão devendo apenas a obediência a lei, facto que nunca veio a acontecer, uma vez que foram promovidos flagrantes atropelos à lei, sobretudo com padrões dúbios de equidade e ética corporativa. Temos hoje na universidade mais de 70% dos funcionários outrora enquadrados na carreira de Técnino Superior de N1 e que sem concurso público mudaram para carreira docente nas categorias de assistente estagiário e assistentes universitários, destaca-se o facto da maior parte deles nunca ter entrado numa sala de aulas. A mudança de carreira no contexto da UniLúrio é a fórmula encontrada para ganhar mais dinheiro por parte destes jovens aventureiros e contentar os pró-regime.
Outrossim é a corrida ao “segundo contrato”, que é uma prática comum na universidade, consistindo na oferta de um contrato adicional em regime de tempo parcial como docente, para funcionários que não estão a exercer a docência, maior parte deles na Faculdade de Ciências de Saúde, constituindo um flagrante atropelo ao Estatuto Geral do Funcionários e Agentes do Estado (EGFAE), pode-se destacar por exemplo; o director de recursos humanos, o director do gabinete de auditoria, por sinal o guardião dos procedimentos de fiscalização interna, e da assessora financeira do reitor, que era suposta não cometer tais irregularidades, entre outros que encontraram uma maneira simples de embolsar mais dinheiro no olhar inoperante dos directores das faculdades. Tais funcionários estão impedidos por lei de se fazerem presentes em sala de aulas, uma vez que ostentam apenas o grau de licenciatura violando grosseiramente a lei, especificamente os decretos 63/2007 referente ao SNAQES e a Lei do Ensino Superior nº 27/2009.
Os desmandos supra mencionados incidem também sobre o sector dos recursos humanos, onde quase a maioria do corpo técnico administrativo (CTA) mudou de carreira sem concurso público, e sem nunca ter dado aulas, estando a trabalhar exclusivamente na área administrativa, mas com contratos a tempo parcial como docentes. As consequências destes actos ilegais e irresponsáveis vão desde o bloqueio ao ingresso para novos docentes demandados pelas faculdades e a sobrecarga da folha de salários. Estes actos são reveladores de gritante ineficiência nos processos internos, e é razão bastante que suficiente para a execução de uma auditoria externa de recursos humanos, incluindo a confrontação com os dados do sistema, que podem ser acedidos a partir de perfis autorizados pelo Ministério das Finanças.
As questões concernentes aos ilícitos financeiros incluem pagamento de subsídios via e-SISTAFE, desde 2017, a um grupo de funcionários afectos a DAF Central que variam entre 6.000,00Mts e 30.000,00Mts incluindo agentes de serviço, camuflados de subsídios de risco, numa tentativa de compra de consciência e cumplicidade. Tais subsídios podem ser aferidos no próprio sistema que os regista como duplicação de pagamentos. Portanto ter-se numa instituição de Ensino Superior uma técnica licenciada que ganha para além do salário, mais de 3 subsídios iguais ou superiores ao salário é um obnóxio.
Projectos académicos falhados
As Faculdades projectadas para fazer diferença oferecendo um grande contributo para a região tornaram-se autênticos elefantes brancos, máquinas inoperantes e de deformação académica, nomeadamente a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) – Ilha de Moçambique e a UniLúrio Business School (UBS) – Nampula, onde as respectivas direcções tornaram-se caixas de ressonância, repetindo os discursos prepotentes do topo. Ao invés de soluções aos problemas económicos e sociais que necessitam de respostas cientificamente testadas, transformaram- se em corredores de bajulação e poluição revanchista ou vingativa.
A FCSH experimentou três directores em menos de três anos, facto para questionar se existe um projecto institucional com objectivos bem definidos. Concebida para servir de referência no estudo da herança histórico-cultural e outras dinâmicas na costa do Oceano Índico, sobretudo nos contactos com outros povos, tais como árabes e portugueses, está muito aquém de ser essa referência, pois é mais uma faculdade comum a tantas outras cujo a actividade principal é o ensino.
Não há uma produção científica com os traços previamente sonhados, a sua relevância no contexto da Ilha de Moçambique é insípida, seu contributo idem, tendo se transformado num ponto turístico para quem sob pretexto de missão de serviço vai lá passar o final de semana.
A UBS que já conta com um reitor em miniatura, Fidel Bilika, que movido pela avidez de poder e incompetência gerencial não fez mais do que tentar apagar a imagem do seu antecessor e sua antiga colaboradora, Danila Patel, como circulou nas actas-aúdios gravadas nesses encontros, atacando-os em reuniões onde de forma cerimonial e doentia os acusavam de má gestão e de terem delapidado a recursos da faculdade, uma autêntica falta de foco e inexperiência de gestão. Sabe-se, no entanto, que o “carismático” Gilberto Ivala colabora no African Economic Research Consortium em Nairobi, enquanto termina o PhD entre Harare e Lusaka. A UBS tornou- se inviável, um projecto que já demonstrou capacidade para ser referência na região, mas que para muitos foi um aborto movido pelas guerras intestinais e desinteligências peculiares ao estilo de gestão da UniLúrio.
A outra faculdade que rema contra a maré desenvolvimentista é a Faculdade de Ciências Agrárias e Engenharia Florestal da esquecida Niassa, onde com muitas dificuldades rende-se aos vícios de uma administração falhada, a direcção da faculdade rendeu-se ao ócio, onde pensar é um castigo e como resultado de frustração dos docentes que sofrem duplamente com o isolamento geográfico e ao mesmo tempo a falta de motivação, não fazem mais do que descarregar o stress nos estudantes que já registam uma elevada propensão ao suicídio. Os factos falam por si, uma faculdade virada para alavancar o sector agro- -pecuário não consegue ter uma plantação ou campo de produção agrícola, nem mesmo uma manada de caprinos para não falar de bovinos para sua envergadura, ademais localizada numa das terras mais produtivas de Moçambique.
Farmácia comunitária
Financiada pelo Fundo Nacional de Investigação (FNI) como uma inovação incontornável para alavancar o ensino a pesquisa e extensão por um lado, e como a materialização das políticas de intervenção comunitária no âmbito da saúde pública por outro lado, o projecto não foi encarado neste prisma, mas antes, com um certo ostracismo, e sempre com tendência a torná-la num saco azul dadas as suas potencialidades, facto que até então não teve nenhum avanço pelas incongruências da nova gestão institucional.
Motivação
É um paradoxo afirmar que a UniLúrio faz sucesso internacional quando mais de 90% dos funcionários está insatisfeita e desmotivada, com grande parte deles saturados, e esperando uma mudança de rumo. É necessário analisar a motivação como o esforço investido numa empreitada, a persistência em manter tal esforço, e a direcção deste esforço no que tange aos objectivos organizacionais. A universidade Lúrio perdeu-se em algum lugar no tempo e no espaço, e precisa de resgate urgente, a Universidade não precisa de um super man, mas de uma equipa entrosada e interactiva que possa redesenhar o projecto institucional. Não é uma questão política, mas de boas práticas de gestão com bases cientificamente validadas, com argumentos objectivos de qualidade e não de um linguajar cerimonial característico das organizações burocráticas formais.
É expectativa de todos os funcionários que o próximo reitor tenha em primeiro lugar sensibilidade multidimensional, sobretudos nas variáveis como a envolvente cultural, domínio de processos internos, obviamente com respaldo legal, e fundamentalmente habilidades interpessoais. Conhecer as dinâmicas da região norte de Moçambique não significa necessariamente ser originário dessa região, mas sim interagir com esse meio e tomar vantagens para o desenvolvimento institucional, não é o macro ambiente que vai mudar em função da UniLúrio, mas é o inverso que deverá ocorrer e diga-se em abono da verdade, a reitoria cessante falhou muito neste aspecto. Não menos importante é a humildade, é uma virtude que confunde os incautos, a humildade não é cobardia, mas sim nobreza. A humildade não nos diminui, mas antes, enobrece o ser humano.