Os produtores de algodão da província de Nampula continuam a queixar-se dos mesmos problemas de sempre, relacionados com a alegada degeneração da semente, o uso de produtos químicos fora do prazo de validade e a viciação das balanças por parte de alguns intervenientes da cadeia de valor, entre outros constrangimentos.
Essas preocupações foram apresentadas na última sexta-feira, na comunidade de Muchaleque, distrito de Monapo, à margem das celebrações do Dia Mundial do Algodão — oficialmente assinalado a 7 de Outubro. O evento foi promovido pelo Fórum Nacional dos Produtores de Algodão (FONPA), em parceria com a We Effect, no âmbito do projecto “Empoderamento Económico de Mulheres na Cadeia de Valor do Algodão”.
Segundo Izaquel dos Santos Pirilato, produtor do distrito de Monapo, para além dos problemas acima mencionados, os agricultores têm sofrido os impactos dos fenómenos climáticos adversos, que afectam a produção.
Por sua vez, Ernesto Vicente, produtor da localidade de Itoculo, no mesmo distrito, defendeu a necessidade de melhorar a qualidade e os preços dos produtos químicos, de forma a garantir o aumento da produção e da produtividade.
“Este ponto, na minha opinião, deve ser seriamente discutido com as empresas concessionárias”, sublinhou Vicente.
Já Isabel Gaspar, produtora de algodão em Namialo, distrito de Meconta, apelou a uma maior valorização dos produtores por parte da empresa SANAM.
“Nós somos os patrões”, ironizou, acrescentando que “sem os produtores não existiria a empresa, nem técnicos, porque sem algodão não há razão para a sua existência. O algodão está no nosso sangue, mas o Governo e as empresas parecem não sentir nada por nós” – rematou.
Por sua vez, Augustino Pacuneta, produtor do distrito de Muecate, denunciou a existência de alegado “nhonguismo” (nepotismo) na gestão dos fundos destinados aos produtores de algodão.
Durante o encontro, os participantes abordaram ainda a fraca assistência técnica prestada pela empresa SANAM, apontando que os seus técnicos raramente visitam os campos durante o cultivo, limitando-se a aparecer apenas na época da colheita.
Em resposta às preocupações apresentadas, o representante da SANAM, Genito Fareto, afirmou que o preço dos produtos químicos está a ser revisto pelas empresas concessionárias.
“Para a campanha 2025/2026, prevemos realizar um encontro interno para discutir profundamente esta questão e acredito que encontraremos uma solução”, garantiu.
Quanto à qualidade dos produtos químicos, comprometeu-se a trabalhar em coordenação com os produtores para ultrapassar as dificuldades existentes. Sobre os alegados desvios de fundos, reconheceu tratar-se de uma preocupação também partilhada pela empresa.
“Ano após ano tentamos criar um sistema de controlo, mas tem sido difícil. No entanto, estamos a preparar-nos para implementar um novo sistema de fiscalização na próxima campanha, e acredito que dará resultados”, afirmou convicto.
O investigador do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM), em Meconta, Celestino Domingos, reconheceu que a produção de algodão constitui um grande desafio e destacou que os choques climáticos são uma realidade global.
“Os intervenientes desta cadeia devem procurar soluções locais para um problema que é mundial”, observou.
O representante do Serviço Distrital das Actividades Económicas (SDAE) de Monapo, Elton Roque, reconheceu igualmente os constrangimentos enfrentados pelos produtores e sublinhou a importância de resolver algumas das preocupações antes do arranque da próxima campanha agrícola.
Por seu turno, o técnico do FONPA em Nampula, Pedro Marenja, destacou que o Instituto Nacional de Oleaginosas tem em carteira várias iniciativas destinadas a apoiar os produtores de algodão, com vista ao fortalecimento da cadeia de valor.
