População revolta-se por alegada má distribuição de donativos em Muecate

População revolta-se por alegada má distribuição de donativos em Muecate

Pelo menos uma pessoa morreu e outras quatro ficaram feridas na sequência de uma intervenção da Polícia da República de Moçambique (PRM), no distrito de Muecate, província de Nampula.

A actuação policial visava conter um assalto popular aos produtos disponibilizados pelo Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD), destinados às vítimas do ciclone JUDE.

De acordo com informações recolhidas junto da Associação Koxukuru, o incidente terá sido provocado pelo alegado favorecimento na distribuição dos donativos.

A lista de beneficiários, elaborada e afixada pelas autoridades locais no dia 15 de Outubro, incluiria, em grande parte, nomes de pessoas próximas dos líderes comunitários e de alguns funcionários públicos — situação que gerou forte indignação entre os moradores.

Segundo a mesma fonte, quando a população procurou esclarecimentos sobre a irregularidade, nenhuma autoridade se prontificou a dar explicações, o que aumentou a frustração e desencadeou actos de revolta.

“Sentindo-se injustiçada, a população organizou-se e tomou de assalto os armazéns do INGD. No dia 15 de Outubro invadiram os armazéns de alimentos e, dois dias depois, descobriram outro espaço que continha material agrícola com o mesmo propósito. A nova invasão levou à intervenção da polícia, que, na tentativa de dispersar os populares, acabou por matar uma pessoa e ferir quatro, por disparos de arma de fogo”, relatou a fonte.

Na sequência dos ferimentos e da morte registada, a revolta popular intensificou-se, com ameaças de destruição do centro de saúde local. Segundo relatos, as vítimas eram obrigadas a apresentar uma guia emitida pelo posto policial como condição para receber atendimento médico, o que agravou ainda mais a tensão.

A Associação Koxukuru insta as autoridades competentes a realizarem uma investigação rigorosa para apurar as verdadeiras causas da revolta, não descartando a hipótese de o tumulto ter sido usado como forma de encobrir eventuais desvios de produtos.

A organização recorda ainda que, recentemente, foi registado um caso semelhante no distrito vizinho de Meconta, também relacionado com o desvio de bens destinados à ajuda humanitária.

Por fim, condenou o uso excessivo da força por parte da PRM e exigiu que os responsáveis pelos ferimentos e pela morte sejam devidamente identificados e responsabilizados criminalmente.

Refira-se que os produtos saqueados haviam sido entregues ao distrito de Muecate pelo INGD, em Setembro último.