Histórias de vida: Conquistas e resiliência de algumas mulheres de Nampula  

Histórias de vida: Conquistas e resiliência de algumas mulheres de Nampula  

Porque estamos no mês da mulher, o nosso jornal inicia, na sua edição de hoje, uma série de reportagens em que elas (as mulheres), na primeira pessoa, trazem depoimentos que demostram as suas conquistas e resiliência, ante a dificuldade do dia-a-dia, lutando pela sobrevivência, já difícil nos dias de hoje, para a maioria dos cidadãos.

Delfina Armando tem 32 anos de idade, é uma das mulheres que desde cedo, decidiu ganhar a vida praticando o comércio nos mercados da cidade de Nampula. Nasceu em Mecuburi, um distrito do interior e conta que saiu da casa dos seus pais quando tinha 9 anos de idade, para se juntar com a tia no bairro de Murrapaniua, na cidade capital. O objectivo era tentar estudar dada a falta de condições dos progenitores.

Na capital provincial, Delfina Armando começou a frequentar a 4ª classe e nos tempos livres auxiliava a sua tia nos seus negócios de venda de comida, principalmente no mercado grossista de Waresta, situação que se prolongou até 2007, altura em que se envolveu precocemente com um jovem, tendo culminado com a gravidez indesejada.

Por essa situação, segundo Delfina Armando, foi expulsa da casa da tia, acção que impossibilitou na continuidade dos estudos, abraçando desta forma a vida adulta com apenas 16 anos.

Já na sua residência, a nossa entrevistada conta que teve dificuldades de encarar a vida, tendo iniciado o negócio de venda de bolinhos feitos na base de trigo, por causa da falta de dinheiro.

“Tive dificuldades para conseguir me alimentar, porque o jovem que me engravidou dependia dos seus pais e daquilo que conseguíssemos, acumulávamos, dai, iniciei com o negócio de bolinhos com apenas 100 meticais”, revelou Delfina.

Afirmou que, não teve êxitos praticando esta actividade, razão pela qual, viu-se obrigada a recorrer outras alternativas para a sobrevivência, desta vez, vendendo cabanga (bebida tradicional feita na base de milho), durante 2 anos.

“Conseguia 700 meticais de lucro e comecei a pensar em outros planos e me veio a ideia de mudar de Nampula para o distrito de Alto Molocué, na província da Zambézia, isso no ano de 2014. Fiquei lá durante dois anos exercendo a mesma actividade”, frisou.

Disse que, naquele distrito localizado a norte da província da Zambézia, o negócio de cabanga não tinha mercado e por conta da situação teve que voltar à Nampula para refazer os seus planos.

“Levei o stock que eu acumulava e comecei outro negócio e desta vez, a venda de pedaços de frangos. A minha vida começou a seguir em frente, porque em média diária conseguia ganhar entre 1000 e 1500 meticais de lucro”, disse.

Ainda exercendo esta actividade, em 2015, Delfina Armando conseguiu comprar o seu terreno na zona de Nakahi, para além de levar os 4 filhos à escola dos 5 que tem. De seguida, construiu a sua casa de alvenaria, pese embora não tenha sido concluída na totalidade.

Actualmente, Delfina Armando continua a exercer a actividade comercial e está a vender comida no mercado grossista de Waresta.

“Sou uma mulher feliz, porque consigo viver sem depender de ninguém. O meu marido do pouco que consegue, juntamos para posteriormente abrirmos outros projectos”, explicou.

No entanto revela que quando abraçou o mundo de negócio, Delfina Armando teve momentos de inglórias, devido a humilhação que passara com as outras mulheres chegando de ser apelidada de feiticeira.

Apesar das humilhações, Delfina Armando exorta as outras mulheres que se encontram em situações deploráveis a seguir o seu exemplo, procurando formas de sobrevivência, face ao actual custo de vida.

Judite Fernando, tem 36 anos de idade, uma mulher que também carrega desde cedo a responsabilidade de ajudar os seus filhos. Nasceu no distrito de Murrupula, onde chegou a concluir o ensino médio, na escola secundária de Natikiri-Teacane, em 2008.

“Por falta de ocupação, decidi abraçar o negócio, vendendo chamuças no mercado de Waresta. Daí, descobri um jovem que na altura trabalhava numa empresa de segurança privada, o qual tirou-me da casa dos meus pais”, referiu.

Volvidos um ano, Judite que reside no bairro de Marrere, troca o negócio de chamuças com o de peixe seco e fez uma banca na sua residência.

“Antes de ter filhos, já vendia na minha banca que havia instalado na minha casa. Em 2010 tive o primeiro filho que agora tem 13 anos de idade e está na 5ª classe. Três anos depois, tive o outro e o último em 2018, ano que perdeu a vida o meu marido”, contou.

Depois da morte do marido, Judite não parou de vender, ademais, ganhou a coragem de continuar a exercer a sua actividade para alimentar os seus filhos.

“Quando perde vida o meu marido, não parei de vender, fui atrás do negócio e até consegui levantar outros produtos tais como sabão, detergente em pó, açúcar e ovos. Esta mercadoria me rendeu bastante”, disse.

Como se não bastasse, a nossa interlocutora, começou a fazer xitique com as outras mulheres e como resultado conseguiu construir a sua casa, além de matricular os seus filhos à escola.

“A minha vida mudou quando iniciei o xitique de cinco mulheres e semanalmente tirava 200 meticais, daí comecei a bater meus blocos até construir a minha casa”, relatou.