Apesar dos seus solos férteis e do contributo significativo para a produção agrícola nacional, Nampula continua a liderar o ranking das províncias com maior taxa de desnutrição crónica em Moçambique. Com 46% da população afectada, o cenário evidencia uma contradição alarmante e desafia as autoridades a reforçar acções multissectoriais para travar um problema que persiste há anos.
Os dados foram revelados na terça-feira, no distrito de Eráti, pelo substituto do director do Serviço Provincial das Actividades Económicas de Nampula, Bonifácio Cambir, durante uma reunião do Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN), com o apoio do projecto CASCADE. O encontro teve como objectivo fazer o balanço das actividades realizadas nos distritos de Eráti, Nampula e Nacarôa.

Na ocasião, Cambir defendeu a necessidade urgente de articular acções entre diversos sectores para combater a desnutrição de forma eficaz.
“Esperamos, com este workshop, fazer um balanço do que foi alcançado, harmonizar os planos operacionais distritais e construir uma matriz de coordenação que nos permita implementar acções alinhadas à realidade de cada distrito, com uma metodologia e periodicidade claras de monitorização”, referiu o responsável.
Por sua vez, o gestor do projecto CASCADE para a zona norte do país, Claúdio Sixpence, destacou que, apesar dos grandes desafios enfrentados pela província — como os ataques terroristas em Eráti e os efeitos dos ciclones —, o trabalho desenvolvido no terreno tem sido positivo.

“Algumas actividades previstas não foram realizadas devido à instabilidade político-militar, que obrigou muitos membros das instituições governamentais a deslocarem-se para locais mais seguros. Ainda assim, conseguimos executar acções importantes ao longo do ano”, explicou.
O projecto CASCADE tem sido um parceiro-chave na implementação de políticas de segurança alimentar e nutricional. Segundo Sixpence, muitos dos entraves à concretização destas políticas residem na falta de coordenação entre sectores.
“Existe ainda a percepção errada de que a segurança alimentar é uma responsabilidade exclusiva do sector da saúde, quando, na verdade, é uma questão transversal que deve envolver todos os actores”, sublinhou.
Com uma população estimada em quase sete milhões de habitantes, Nampula continua a ser uma das províncias mais afectadas pela desnutrição em Moçambique, seguida pela Zambézia, com 44,6%. A média nacional situa-se nos 38%. O desafio agora é transformar o potencial agrícola da região em segurança nutricional efectiva para os seus habitantes.
