Professores endividados e corrupção fragilizam ensino em Nampula

Professores endividados e corrupção fragilizam ensino em Nampula

Académicos sediados em Nampula defenderam, esta quinta-feira, que o combate à corrupção no sector da educação deve ser encarado como premissa fundamental para a melhoria do seu funcionamento e, consequentemente, para o desenvolvimento da região.

Por essa razão, instaram os deputados da Assembleia da República (AR), pelo círculo eleitoral da província, a levarem o tema ao debate em plenário.

Durante a auscultação promovida pelos parlamentares à sociedade civil, académicos, desportistas e outros actores sociais, foram também apontadas as precárias condições de trabalho dos professores como factores que contribuem para a degradação da qualidade do ensino em Nampula.

O académico Baptista Muchaia considerou que a corrupção no sector está tão enraizada que alunos, pais e encarregados de educação já a encaram como prática normal.

Académico Baptista Muchaia

“Os professores acabam por receber essas miseráveis migalhas para fazer passar os alunos, e, infelizmente, esta realidade está normalizada. Por isso, pedimos aos senhores deputados que não a normalizem também”, sublinhou.

Segundo explicou, tal situação compromete a formação dos estudantes desde o ensino primário, com reflexos que se prolongam até ao nível superior, inclusive na formação de futuros professores.

Muchaia apontou ainda como obstáculo à qualidade do ensino o impacto emocional das dívidas contraídas pelos docentes junto dos bancos comerciais.

“O mesmo professor tem quatro, cinco ou até dez dívidas, e no final do mês restam-lhe apenas 200 meticais na conta. Isso leva-o a procurar outras fontes de subsistência fora da sala de aulas. O problema é que o director ou gestor da escola também não está presente para controlar a situação, porque passa grande parte do tempo em actividades partidárias”, criticou.

Por sua vez, Wilson Nicaquela, director da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Lúrio (Unilúrio), sugeriu que os deputados apresentem na AR a proposta presidencial

Wilson Nicaquela, director da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Lúrio (Unilúrio)

“Um distrito, uma escola secundária de raiz”. Segundo disse, a medida ajudaria a reduzir a criminalidade e a marginalização social, muitas vezes associadas à falta de capacidade crítica decorrente da ausência de uma educação sólida.

“Há duas vias para que o povo progrida, e essas vias são transmitidas pela educação, que pode ser positiva ou negativa”, frisou Nicaquela.

O académico recomendou ainda que os deputados criem blogs e utilizem as redes sociais para interagir com estudantes universitários, recolhendo ideias que possam servir de base ao desenvolvimento da província.

“Não precisam de gastar ajudas de custo para se deslocarem aos distritos. Façam-no através das vossas plataformas digitais”, incentivou.

Já o professor doutor Arsénio Cuco sublinhou que a eficácia da função parlamentar depende também da existência de assessores e consultores que ajudem os deputados a compreender os processos de governação e a realidade vivida pelas comunidades, o que lhes permite elaborar leis mais eficazes e adequadas ao contexto nacional.

Professor doutor Arsénio Cuco

O deputado Luciano de Castro esclareceu que a auscultação teve como objectivo recolher subsídios sobre os principais problemas que afectam a província.

“Esta é uma actividade de recolha de informações, reflexões e sugestões, para melhorarmos o desempenho do governo e de todos os actores envolvidos na promoção do desenvolvimento da província de Nampula”, concluiu.