Os intervenientes do sector de produção de algodão em Nampula lamentam a persistência do problema de uso de sementes não certificadas, por parte dos produtores, que são obrigados, indirectamente, pelas empresas fomentadoras a usarem sementes recicladas de qualidade duvidosa devido ao seu custo inferior.
De acordo com os representantes de diversas organizações do sector algodoeiro no país, que estiveram reunidos nesta quarta-feira, em Nampula, para discutirem as soluções para impulsionar o sector do algodão em Moçambique, as sementes recicladas – que as empresas fomentadoras conservam após o descaroçamento para reutilizar na campanha seguinte – cobre acima de 80% das sementes utilizadas pelos produtores.
O workshop, que tinha sido organizado pela Solidariedade em parceria com a Trustafrica, teve como objectivo reunir stakeholders importantes do sector para facilitar a troca de conhecimentos e experiências, buscando identificar áreas de colaboração para o crescimento sustentável da indústria algodoeira em Moçambique.
Durante o evento, José Domingos, representante do Fórum Nacional de Produtores de Algodão de Nampula (FOPANA), destacou a séria preocupação com a predominância das sementes recicladas. Segundo ele, a falta de progresso na multiplicação de sementes, por parte das empresas fomentadoras, tem desencorajado os produtores, que continuam a utilizar sementes antiquadas, resultando em baixos rendimentos.
“Ainda estamos a conseguir apenas 250 quilogramas por hectare. Se as empresas estão a fornecer as sementes aos produtores, por que, também, não compartilham os benefícios da multiplicação? Essa situação revela claramente que as empresas não estão comprometidas. Nas nossas aldeias, muitos produtores estão a desistir a produção de algodão devido à falta de benefícios económicos.” – disse Domingos.
Felisberto Capota, presidente dos Produtores de Algodão de Cabo Delgado (FOPACD), reiterou a preocupação, questionando por que os produtores enfrentam tantas restrições enquanto as empresas não compartilham o benefício da multiplicação das sementes certificadas. Ele destacou a necessidade de políticas que permitam aos produtores operar de forma mais independente, ajustando-se às realidades do mercado internacional.
Pedro Marrenja, do Fórum Nacional dos Produtores de Algodão (FONPA), sugeriu uma advocacia para rever o regulamento da cultura do algodão, especialmente em relação à disponibilidade e custos das sementes certificadas.
“Quando falamos de sementes, precisamos examinar o que está previsto no regulamento e considerar ajustes necessários. Dizem que as sementes são gratuitas, mas como o sistema pode se sustentar dessa forma?”, questionou Marrenja.
Por seu turno, Manuel Maleia, engenheiro do centro de investigação de sementes de algodão de Namialo, concordou com as preocupações levantadas, apontando que a conformidade estrita ao regulamento é crucial para alcançar a sustentabilidade.
“As coisas funcionam onde a pesquisa desempenha seu papel e fornece às empresas a base para o resto. Precisamos avançar sem restrições para progredirmos”, sugeriu o engenheiro.
Ele enfatizou a necessidade de flexibilidade para que os produtores possam adquirir sementes de qualidade, como observado em experiências internacionais.