Ferrão defende escolha de pessoas certas para ritual “Othuka”

Ferrão defende escolha de pessoas certas para ritual “Othuka”

O Reitor da Universidade Pedagógica (UP) em Maputo, Jorge Ferrão, defende a indicação de pessoas certas, com dotes de comunicar com os espíritos, para a realização das cerimónias do ritual “Othuka” (que significa fechar ou amarrar), pelas comunidades locais da província de Nampula, para “travar” a ocorrência de eventos naturais extremos como chuvas fortes e ciclones, com o objectivo de mitigar a perda de vidas humanas, a destruição de infra-estruturas sociais, entre outros danos decorrentes destes imprevistos.

Ferrão disse que, para o ritual “Othuka”, realizado por um líder com poder de evocar espíritos para travar chuvas e outros eventos climáticos, são usados três elementos principais para tal cerimónia: a enxada, farinha de milho e o fogo.

“Se nós temos a capacidade de travar esta chuva, também influencia o vento, por que a gente não consegue travar a chuva por conta das mudanças climáticas, que têm estado a destruir e provocar mortes?”, Questionou Ferrão.

Ferrão falava ontem, na cidade de Nampula, na qualidade de orador do tema “Acção Humanitária, Responsabilidade Social e Meio Ambiente”, no quadro da realização do III Fórum sobre Ação Humanitária e Responsabilidade Social, evento promovido pela Universidade Rovuma e parceiros de cooperação.

Para além da província de Nampula, o ritual “Othuka” é praticado nas províncias de Niassa, Cabo Delgado, Zambézia e parte da província de Manica.

“Em Nampula, não chovia até Novembro, porque até essa altura tínhamos as cerimónias dos ritos de iniciação. Podia chover em outras partes, mas não aqui. Este tipo de fenómeno tem sempre uma parte natural e outra normativa. A parte natural pode ser interpretada como consequência das mudanças climáticas, enquanto a normativa nos diz que não chove porque a chuva foi travada”, explicou Ferrão.

Entretanto, conforme explicou, quando se pretende reverter este quadro e permitir que a chuva caia, as comunidades usam o ritual “Othukula” (desamarrar).

“Para fazer a abertura da chuva, esta transição da cerimónia não se usa enxada, mas sim a catana e a farinha de milho, novamente, que faz a maqueia, e o fogo deve estar sempre distante e num lugar onde não passa quase ninguém. Este tem sido o fenómeno principal para libertar a chuva”, detalhou o orador.

Na mesma ocasião, Ferrão indicou que o ritual “Othuka” tem o seu lado negativo, porque gera muitos conflitos quando é preparada a terra para a prática da agricultura e não há queda de chuva numa determinada região.

“Estas famílias olham para quem promove os rituais como os causadores da desgraça. Não posso produzir porque alguém está a travar a chuva… e os conflitos são muito violentos. Se escutarem a rádio pública, podem acompanhar que algumas pessoas chegam a perder a vida por linchamento, alegadamente porque travaram a chuva”, disse Ferrão.