Confrontos entre a polícia e manifestantes com rescaldo de mortes e feridos

Confrontos entre a polícia e manifestantes com rescaldo de mortes e feridos

Há pelo menos um morto e um número ainda não quantificado de pessoas feridas em resultado de confrontos violentos entre a polícia e manifestantes que protestavam contra os resultados das eleições de 9 de Outubro passado, divulgados ontem pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).

Esses eventos marcaram o dia de ontem nas duas principais cidades do maior círculo eleitoral, nomeadamente Nampula e Nacala.

A PRM, no início da noite, desmentiu as informações que circulavam nas redes sociais, que davam conta de que em Nacala pelo menos seis pessoas teriam perdido a vida e que na cidade de Nampula duas pessoas teriam falecido.

Dércio Samuel, chefe das relações públicas do comando provincial da PRM, confirmou que um agente da polícia foi ferido em Nacala e que não há registro de mortes entre os membros da corporação.

O número de feridos pode ser elevado, tanto é que circularam imagens ilustrativas de pessoas com diversos tipos de ferimentos, e o Hospital Central de Nampula enfrentou uma pressão significativa nos seus serviços de urgência ao longo da tarde de ontem, devido ao número de pacientes à procura de cuidados médicos. Aliás, no HCN deu entrada um corpo sem vida de um cidadão que foi atingido na zona dos “quatro caminhos”, na cidade de Nampula.

O rescaldo das manifestações, que iniciaram de forma pacífica ao longo da manhã com jovens a marchar por algumas artérias da cidade de Nampula, empunhando dísticos de Venâncio Mondlane e do partido Podemos, estendeu-se a actos de vandalização, saque e incêndio de vários bens e propriedades privadas.

O mercado de peixe de Belenenses foi reduzido a cinzas devido a um incêndio, pois os manifestantes atearam fogo a uma das barracas de construção precária, o que se alastrou para várias outras.

Os estragos em bens privados ainda estão por quantificar, mas quem mais sofre com essas acções são as pessoas de baixa renda que, com a perturbação da ordem e a violência policial, ficam impedidas de efectuar seus negócios do dia-a-dia.

“A nossa economia é marcadamente informal. Grande parte da população vive da renda que produz diariamente e há pessoas que, se não conseguem vender em um dia, ficam sem comer”, disse um economista da praça que prefere não ser identificado.

Mas nem todos compartilham dessa opinião. Ontem, no meio de alguma confusão da manifestação, encontramos um jovem que, de viva voz, disse chamar-se Abdul Mussa e afirmou que estavam ali porque queriam ver mudanças no país.

“A Frelimo está há 50 anos no poder e não faz nada por nós, os pobres. Chega, eles têm que sair e deixar o Venâncio, que ganhou estas eleições, governar”, justificou.